Os gestos são para todos os bebés?

Os gestos são para todos os bebés?

SIM!!!!!

Claro que sim!

Os gestos são para todos os bebés.

Se pensarmos no gesto como um presente que podes oferecer ao teu bebé, imagina as brincadeiras criativas que podem advir daí! Experimenta e vê a magia dos gestos a acontecer.

Haverá de certo bebés que “gestualizam” mais que outros, como existem adultos mais faladores que outros.

Mas isso deve-se a quê, exatamente?

– Será que comecei na idade certa?

– Será que lhe ofereci gestos suficientes?

– Será que soube escolher os gestos mais significativos para ele?

– Será que o meu bebé está preparado?

– Será que ele não quer comunicar?

– Será que…?

São muitas as perguntas que podes fazer mas vamos refletir em conjunto:

Para que servem os gestos?

O que é preciso para o teu bebé fazer o gesto?

Os gestos são formas de comunicação não verbal baseadas em manifestações corporais voluntárias ou involuntárias, tais como, movimentos das mãos, braços, expressões faciais, entre outros (1).

Então o que podemos fazer com os gestos? Para que servem? Comunicar o que vemos, o que sentimos, o que queremos ter, perguntar, comentar,… Servem para partilhar!

E o que é preciso para que o meu bebé faça o gesto?

  1. É preciso um contexto: alguém com quem partilhar, um assunto para partilhar… (até para sonhar é preciso “material”, já tinhas pensado nisso?) Pode ser uma novidade ou algo que se repete, e que deixa o teu bebé seguro, ou uma outra coisa qualquer, só porque sim!

  2. É  preciso que tenha intenção de comunicar. O teu bebé pode fazer o gesto por imitação, é verdade, faz parte do processo, mas o verdadeiro envolvimento e vínculo com o bebé acontece quando ele quer partilhar contigo.

  3. É preciso uma representação de significado (conteúdo linguístico), à qual se associa uma imagem sonora ou gestual. Sem significados, sem conhecimento prévio, sem linguagem, não existem construto, não existe matéria para comunicar à qual o bebé possa recorrer.

  4. É preciso capacidade de planear e executar o movimento, quer seja ele um gesto, uma vocalização ou uma palavra.

 

E agora tu perguntas-me:

E se o meu bebé não estiver preparado?

Está tudo bem. Está mesmo tudo bem!

Lembra-te que podes continuar a fazer os gestos, porque é importante que o ajudes a ganhar ferramentas para que, quando chegar o dia em que todas as premissas se conjugam e o gesto surge, ele tenha tudo o que precisa para partilhar contigo.

Respeita o tempo do teu bebé! Observa e o teu bebé.

Se por ventura achares que alguma coisa não está bem, contacta um profissional do desenvolvimento: um terapeuta da fala, um pediatra de desenvolvimento, um neuropediatra ou um psicólogo com experiência em neurodesenvolvimento.

Ainda assim, os gestos são para todos os bebés e crianças que de alguma maneira tenham dificuldades em comunicar verbalmente. Até as crianças com Perturbação do Espetro do Autismo (critérios DSM-5(2)), que frequentemente manifestam alterações na reciprocidade social e particularidades na intenção comunicativa e no uso funcional da comunicação, até elas podem usar o gesto comunicativo.

As crianças com Perturbação do Espetro do Autismo  usam tendencialmente menor número de gestos e a capacidade de os usar de forma coordenada com o olhar está muito dependente do interesse na interação social e das competências afetas ao comportamento adaptativo (3). Mas o gesto, mesmo para estas crianças, pode ser uma forma de comunicação viável, sobretudo quando se associa outras perturbações comórbidas como as Perturbações do Som da Fala (critérios DSM-5), designadamente a Dispraxia Verbal do Desenvolvimento/Apraxia da Fala Infantil (4,5), em que se observam alterações no planeamento motor da fala.

 

Rosa Rodrigues

Instrutora Certificada Independente do Programa Baby Signs®

Terapeuta da Fala

Mestre em Neuropsicologia

https://instagram.com/rosarodrigues.tf?igshid=YmMyMTA2M2Y=

 

Referências bibliográficas:

(1) Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala (2020) Dicionário Terminológico de Terapia da Fala. Lisboa: Papa-letras.

(2) Associação Psiquiátrica Americana. ( 2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ( 5 ª ed . ) . Arlington, VA: . American Psychiatric Publishing

(3) Ye Q, Liu L, Lv S, Cheng S, Zhu H, Xu Y, Zou X and Deng H (2021) The Gestures in 2–4-Year-Old Children With Autism Spectrum Disorder. Front. Psychol. 12:604542. doi: 10.3389/fpsyg.2021.604542

(4) Conti, E., Retico, A., Palumbo, L., Spera, G., Bosco, P., Biagi, L., Fiori, S., Tosetti, M., Cipriani, P., Cioni, G., Muratori, F., Chilosi, A., & Calderoni, S. (2020). Autism Spectrum Disorder and Childhood Apraxia of Speech: Early Language-Related Hallmarks across Structural MRI Study. Journal of personalized medicine10(4), 275. https://doi.org/10.3390/jpm10040275

(5) Shriberg, L.D., Paul, R., Black, L.M. et al. The Hypothesis of Apraxia of Speech in Children with Autism Spectrum Disorder. J Autism Dev Disord 41, 405–426 (2011). https://doi.org/10.1007/s10803-010-1117-5

 

 

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